terça-feira, 27 de maio de 2008

Lailson - humor como análise da realidade

No início da reportagem, escrevi para Lailson dizendo que eu teria de me controlar como fã da arte dele, para que isso não atrapalhasse o aprendiz de repórter. Mas é a emoção que nos mantém vivos.

Sem dúvida, os traços de Lailson daquela época, em Recife, reforçaram o meu interesse em lidar com a realidade do povo. Naqueles anos em que meu saudoso pai, sedento de justiça social, também me dera essa sensibilidade.

Quando respondeu a entrevista, Lailson me enviou a charge sobre a fome infantil, que ele publicou na Revista Stern no ano passado e que fez parte da exposição Draw Attention, promovida pela UNICEF.

MC - Em 2004, o site Universo HQ publicou que o humor gráfico mundial e brasileiro vinha perdendo cada vez mais público para outras mídias. Como está o panorama agora?
Lailson - Esta é uma questão que tem sido motivo de algumas conversas em nosso meio.
Em minha opinião, ocorreu uma certa regressão na interpretação do mundo, desde que se começou a falar no "politicamente correto", que é, na verdade, um tipo de censura do pensamento.
Por outro lado, passou a haver uma glamourização da miséria, da periferia, como se elas fossem fatores de desejo e não situações onde um ser humano é levado a viver - e conviver - com condições intelectuais e físicas bastante questionáveis.
O Humor Gráfico busca fazer a análise e a crítica dos costumes e não apenas provocar o riso fácil.
Com essas novas tendências comportamentais - que se refletem na mídia - os veículos passaram a querer "pautar" a opinião dos chargistas e reduzir a charge à uma piadinha inofensiva.
Ao mesmo tempo, as pessoas buscam apenas o entretenimento mais superficial e não são levadas a se interessar por uma análise mais profunda da realidade.

MC - O que você diz do chargista Michael Ramirez, ganhador do Prêmio Pulitzer por duas vezes?
Lailson - O humor de Ramirez é muito típico dos EUA.
As pessoas no Brasil tendem a achar que existe uma grande diferença entre Democratas e Republicanos, que os Democratas seriam de esquerda e os Republicanos de direita.
Isso é uma ilusão.
Pode-se dividi-los em liberais e conservadores, mas ambos são de direita.
A diferença entre a proposta democrata e a republicana, no que se refere ao Iraque, por exemplo, é que os democratas dizem que os EUA devem se retirar no curto prazo e os republicanos que deve se retirar em médio prazo, mas nenhum questiona o absurdo e a insensatez que foi invadir aquele país, nem questionam os motivos que nortearam a invasão.
Então, Ramirez reflete bem esse universo e agrada à maioria conservadora, que elegeu Bush e que, apesar de insatisfeita, é muito provável que eleja McCain.
Acho o desenho dele muito bom, de uma escola tradicional da charge americana e européia. O fato de ele receber dois Pulitzer mostra o reconhecimento que ele, como profissional, recebe dos seus pares.

6 comentários:

Emanuela Franco disse...

Marcelo,

Viajar é a vida que eu pedi a DEUS!

Oura, tô solta desde que completei 17 anos... hehehe...

Já dizia o meu avô...

"Quando uma galinha quer se perder, cria asas". hehehe...

Mas eu me perdi de um lado maravilhoso, aliás, a cada dia me acho mais.

Obrigada amigo por comentar no meu blog.

VIVA O HUMOR BRASILEIRO!!!
Beijão!

MMMarcelo disse...

Uaaau, Emanuela - "VIVA O HUMOR BRASILEIRO". Com todo esse astral descontraído, percebe-se que o mundo também é pequeno para você. Obrigado e beijão pr'Ocê!

Flora Neves disse...

Vak=leu neu querido, pelos parabens!!! Mas só fasso que acho que é certo, defendermos o que é nosso desses "fios da buta"!!!
E o que me deixa mais feliz é saber que o nosso trabalho é reconhecido por quem está recebendo a informação!!!
Um abraçooooo(*_*).

Reginaldo Jaques disse...

MMMarcelo,
sou seu fã. Curto muito suas charges e caricaturas. Abraço.

MMMarcelo disse...

Ôôôia... Reginaldo! Muito me alegra e impulsiona ainda mais o meu trabalho, saber que você gosta dos meus rabiscos. Obrigado pelas suas visitas ao MAMÃO DE CORDA. Abração!

Anônimo disse...

Não tem nada de "requentado", Marcelito. Não queira comparar churrasquinho de gato com filé mignon (é só uma comparação. Não chega a ser um "SupraSumo". hehehe...). Somente aproveitei a pauta e umas fotos. O tema me guiou para o aprofundamento da reportagem de MDI III. Conversei com dois técnicos do assunto que ampliaram o conhecimento mínimo que adquiri no seminário.

Não se compara! Não há o que "aceitar".

Teremos mais uma série: "...é meu dinheiro que você ama!"????
Hehehehe...

Beijos